A Asfixia pelo Luto - CLINICA BIOSER

A Asfixia pelo Luto

Por Luciana Matos

Não bastasse o estresse pelas alterações rotineiras, ainda somos convidados, sem possibilidade de recusa, a experienciar algo que sempre nos causou grande impacto e repulsa: “O Luto”.

Vejam:
I. A Realidade

Mortes por COVID 19; mortes por desigualdade social; mortes por preconceito; mortes por abuso de poder… Perdas reais e simbólicas, dor individual e coletiva.
Quantas projeções e identificações vivenciadas a cada fato e história compartilhada, quanta dor e indignação fomentadas dentro de nós.


II. O Luto

O luto faz parte do ciclo da vida: ganhar e perder. Porém, é o acontecimento vital mais sério e intenso que podemos experimentar.
A perda por morte é considerada a maior e última perda de todas. Maior, porque sobrepõe todas as outras perdas vivenciadas em nossas rotinas (projetos de vida não concretizados, rompimentos, objetos e oportunidades perdidas…), e última porque não é possível reaver ou substituir a pessoa perdida.
O processo de luto é um dos desafios mais complexos para o reequilíbrio psíquico. Primeiro, porque provoca choque, negação da realidade, defesa, ansiedade, culpa e raiva. Segundo, porque desencadeia aspectos de desorientação, medo, dor, sensação de angústia e vazio.
Alguns possuem melhor estrutura para enfrentamento desse impacto, passam pelos processos do luto, aprendem a assimilar a perda, se reintegram, se organizam e aceitam a viver novamente, mas outros necessitam de um tempo maior ou ajuda externa para avançar nas fases e se reintegrar.


III. A Asfixia

Independente do nível de capacidade de resiliência de cada um, a luta tem sido intensa. Experimentar a morte do outro sempre nos coloca a frente da nossa própria mortalidade e da certeza da nossa finitude, e inevitavelmente nos promove um momento de solidão, reflexão e insegurança, e hoje, devido as circunstâncias, estamos vivenciando tudo isso freneticamente, sem pausa suficiente para o processo de restauração e retomada da sensação de segurança.
Mas, apesar de bater em nossas portas uma sequência de notícias avassaladoras, e muitas vezes não termos autonomia para bloqueio, podemos e devemos minimamente amenizar esta realidade selecionando os canais nos quais queremos interagir aqui, fazendo prevalecer a prática da autocompaixão para nossa blindagem ou, pelo menos, uma estratégia de respiro para as próximas lutas, afinal, somos humanos.

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